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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Tocando em frente...


(Alma- Zélia Duncan)

Tocando em frente...

E que venha o mal humor do outro
Você que esperou tanto
A minha alegria
Me recebe de zanga.
E que venham os gritos,
Grite...
Você que tanto quis meu riso
Me cospe na cara.

E que venha a falta carinho
Não tenho medo da falta
Ela fez o buraco
E eu amarrei os círculos
E que venham as cobranças
Eu que adoeci
Para satisfazer seu gozo
O meu gozo, que seja...
Mas não quero mais seu pranto
Da marca vou fazer dragão.

E que venham as suas palavras:
Agressivas
Inconseqüentes
Covardes
Doentes
Inábeis...
Me fiz.
E agora?
Não tenho medo
O que era centro se fez gente,
Pois não agüentava mais...
Tocando em frente, então!

Malu Calado

domingo, 3 de julho de 2011

Antropofagia e Epistemofilia

Rodolfo Pamplona Filho

Eu quero comer
sua cabeça incrível
e sentir o prazer
de que é possível
cartas livres mandar
para o amigo invisível
e, ainda, em seu corpo, gozar...

Eu quero devorar
cada pedaço de seu cérebro
e experimentar
toda sensação incerta
que seu pensamento
em mim desperta
na sedução do movimento.

Eu quero me deliciar
com sua complexidade
e realmente aproveitar
todo desejo, querer e vontade
em uma epistemofilia
que uma mente vazia
jamais se encantaria.


Salvador, 07 de fevereiro de 2011.

A FUMAÇA


A solidão da moça
Não é feitiço de mãe.
É a escolha masculina
Errada da filha.
Em meio à fumaça
Não enxerga solução,
Somente pensa solto,
Esvazia sentimentos
A cada tragada e sopro.

A fétida fumaça circunda,
Traz pensamentos confusos,
Ansiedade.
Cheia de uma profunda vontade
De ser apanhada
A moça pensa
Que é a morte querendo falar,
Embora já a segure
Entre os dedos de uma mão.
Pode ser a solidão,
Fazendo- se fumaça
E companheira,
Por piedade da moça!

O odor terrível,
Sente se caindo,
E por um momento
Pensa queimar a pele
Para saber se ainda está lá.
Mas já possui a alma dolorida,
E não poderia usar a cinza.
Pois, embora sozinha
Já lhe foi declarada
A desgraça da agressão,
Da repetição.
Foi lhe dito em declamação
A dúvida do amor
Em análise,
A presença do veneno e crueldade,
Embora a alegria em doar o quadro
Demonstrasse alguma doçura e esperança.

A fumaça, a queimadura,
Seria perverso o ato,
Não somente refletiria na carne
Mas na alma... 

Malu Calado