http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=9f5asvDFEyg#t=396s
(Via Teatro e Psicanálise)
"A depressão se encontra hoje em dia generalizada e quanto mais sobre ela se fala, se escreve e se pesquisa, tanto mais ela é encontrada nos mais insuspeitos ressentidos de nossa civilização. O significante é realmente criacionista: o significante DEPRESSÃO parece ter engendrado o batalhão de sujeitos que assim classificam seu estado d'alma quando se encontram tristes, desanimados, frustrados, enlutados, anoréxicos, apáticos, desiludidos, entediados, impotentes, angusiados, etc. Será que antes não o percebíamos? Onde se escondiam?(...)
Por um lado, parece haver uma generalização- Todos Deprimidos!- Uma vez que se encontra mais a doença.(...). Por outro lado, há um combate ferrenho à depressão por ela ir contra os ideais da produtividade e contra o imperativo da saúde e do bom humor que caracterizam a nossa sociedade utilitarista e consumista. ABAIXO OS DEPRIMIDOS! O resultado disto é o número crescente de pessoas que tomam antidepressivos e de médicos e paramédicos que os receitam, sustentados pelo discurso da ciência que divulga os resultados das pesquisas sobre os neuro- hormônios... A novos males novos remédios? Ou a novos remédios novos males?
(...)Vivemos hoje em uma espécie de evidência do consumo e da abundância, criada pela multiplicação de objetos, na qual os homens da opulência não se cercam mais de outros homens e sim de objetos (tvs, carros, computadores, fax, telefones). Suas relações sociais não estão centradas nos laços com outros homens, mas na recepção e manipulação de mensagens. Essa deterioração dos laços sociais e o empuxo ao prazer solitário fazendo a economia do desejo do Outro só estimulam a ilusão da completude não mais com um par mas com um parceiro conectável e desconectável ao alcance das mãos. O resultado não pode ser outro senão a decepção e a tristeza, o tédio, a nostalgia do Um em vão prometido...
A tristeza, sobre a qual nos fala o melancólico, é situada por Lacan como dor de existir; no âmbito da ética ela é considerada covardia moral(...)
A psicanálise oferece um tratamento pela via do desejo que possibilita o sujeito ir da dor de existir à alegria de viver. Mas para isso o sujeito precisa querer saber, tendo a coragem de se confrontar com a dor que morde a vida e sopra a ferida da existência, para poder fazer da falta que dói, a falta constitutiva do desejo(...)"(Quinet,1997,p. 10-11)
Eu faço análise há alguns anos e posso afirmar que não é fácil dar de cara com as minhas verdades. Essa covardia moral citada por Antonio Quinet, na apresentação do livro A Dor de Existir, pelo pouco que já li sobre psicanálise, parece que é a covardia do não falar em análise, viu gente? A melhora dessa dor de existir pode ser abrandada pela coragem de falar-se. A palavra é o que importa nesse tratamento lindo e cruel. Às vezes eu não quero ir para a análise porque dói. Machuca ver-se desnudar, sem poder agarrar em alguém para culpar.
Muitas vezes culpo o mundo, eu acho que estou completamente out desse mundo consumista, cheio de "assassinos da poesia", onde a regra é mundial e todos têm que ser iguais, onde a subjetividade se esvai...
Mas ao mesmo tempo me pergunto: Porque estou fora? Porque eu não posso entrar no mundo, nova como a lua, e fazer algo diferente dos demais? Aí é que entra a psicanálise, com a sua crueldade sedutora, assim como Carmen de Prosper Mèrriméé (acho que é assim que escreve) e sussurra no meu ouvido: "Porque você tem medo de ser você!". E com ela eu sempre dou "mãos à palmatória", e respondo: "É, tenho medo, pânico, a melancolia se instala, fico paralisada."
Assim vou levando e penso: "Malu, você que adora falar mal desse processo de "mundialização" (li essa expressão em um livro muito legal, mas já é outro assunto) resolveu escrever um blog, caiu na rede da globalização bla, bla, bla." Nada disso, me rendi ao blog. Eu gosto de escrever, as pessoas lêm blogs, e eu sempre quis ser escritora, poeta, dividir idéias, e estava atormentando a minha amiga "verdinha" e o meu analista, enviando 40 mensagens por dia. Além disso, se eu quero fazer alguma coisa diferente, se estou trancada dentro de casa, sozinha mesmo, sofrendo com a tal Síndrome do Pânico, vivenciando reações panicosas seguidas de reações de conversão! Porque não ESCREVER em um blog?
Graças à lei da relatividade eu posso me posicionar como sujeito, mesmo tendo um blog! Eu posso vencer o pânico e a depressão escrevendo, trocando mensagens com pessoas inteligentes e estúpidas? Posso, mas não posso deixar de ir para a análise!
Malu Calado