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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A LUA E A FLOR



Partiram...
As almas, os corações?
Ainda exala o cheiro de flor

de vinho...
Ainda não murchou,
evaporou?

Partidos os corações

A tristeza vem
acima do espelho.
A lua não é mais tão bonita
sem a flor.
Vê-se nas cavas da pele...
 
De Malu para Sara Mendes

O LEGADO DE ESZTER

Em seu livro- O Legado de Eszter-Sándor Márai (1900-1989),escritor hungaro, suspreende o leitor que entende o dito de Lacan sobre a capacidade que a mulher tem de empobrecer- se por amor.
Essa é a minha interpretação grosso modo, claro.

Sandor Márai escreve com agrado aos meus olhos e comparo- o a deliciosa leitura da letra de Robert walser e Herta Muller, só que com muita sabedoria de poeta conhecedor do amor.
 
O livrotrata não apenas da história da generosidade de Eszter, que por amor desfaz de tudo o que tem para agradar ao seu amado cafajeste e sedutor, mas também trata da família que Eszter faz parte, inclusive. Ele fala de amor, da sua espera, e do que as mulheres são capazes de fazer, ou des- fazer, por amor. 

Gostei muito de ver o ensinamento de Lacan sobre o empobrecimento da mulher por amor; das diferentes mulheres descritas no livro. A descrição da amizade de Eszter e Nunu me amornou o coração...

O que lhe resta é uma casa e Lajos a quer...
Eszter pergunta:"- Qual é o seu limite, Lajos?"

Não importa a resposta, ele não tinha limites, Eszter deveria ter construido os seus...
Preferiu sucumbir.

O livro é uma doçura e um murro no estômago das generosas!!
 
Malu Calado 


terça-feira, 31 de julho de 2012

A BUSCA




Tento descobrir a raiz da minha angústia,
Fazer, sair, ver, interagir...
Tento.
Jogo a fala
Buscando algum entendimento
O que me constitui?
Significantes.

Meu ser não me atrai,
Absorto, me faz chorar
Embora exista uma alternância
Entre uma alegria espontânea
E a melancolia.
Não me sinto objeto,
Coisa pendurada, troféu, boneca
Que qualquer um vem, pega, brinca e vai.

Alguns dizem quem sou pelo olhar.
Tento organizar eu mesma
Sendo, não o que dizem,
Mas a minha verdade de ser.
Queria marcar um ponto,
Ter uma certeza,
Um lugar para mim, em mim
Descobrir o meu mundo guardado
Encaixar as peças para ver o sujeito que está
E que não vejo.

A impaciência é constante
O tempo pede urgência
Dizem que tenho que encaixar-me no mundo
Mas não gosto do que vejo lá fora.
Será que posso arriscar agora? Trêmula?
Titubeando quem eu sou?

Descobri uma carta, e na árvore
Venho da Normandia
Do Tupyguarani
Descobri um segredo...
Fruto sem desejo.

A voz pavorosa que impelia à loucura do ato
Que dizia que o meu retrato era o de Dorian Gray
Que dizia que eu tinha um falo
Sumiu, não volta mais.
Embora eu acredite em Sêneca
Discordando dos que se dizem entendidos
Sobre loucura e desequilíbrio.

Assim vou indo,
Juntando nacos,
Compartilhando sonhos, fantasias, atos falhos.
Mas gostaria de fazer um trato.
Que venha a flecha, o a para juntar
Vamos fazer um trato?
Dê-me os significantes, me diga:
Quem sou eu?
Dê um sentido ao sem sentido!
E eu falo.

Eu fuço, penso em características e desejos
Mas a covardia me anestesia
E eu que achava que ia “bem dizendo”!
Agora nem isso, nem “bem fazendo”.

Sou egoísta, ingrata
Mas preciso livrar-me do julgamento.
Procuro encadear os pensamentos
Entender as construções que faço em análise
Interpretar o que sai da minha boca.
Ao menos enlacei os anéis dourados com fita cor de rosa.

Eu quero saber quem sou eu!
Eu falei que faria um trato,
Coloque-me frente ao espelho,
Toque fundo quero ver
O horror que acho que sou
O que vou ver?
Você sabe, mas nunca quer me dizer.

Um tipinho,
É isso?
Preciso de mais
A imaginação nos quadros de Monet?
Longe!


Uma mulher que não entende metade do que lê,
Irritante, mas sem comparação ao sujeito suposto saber.
Reflexiva, orgulhosa, insuportável,
Odiosamente teimosa.
Que tenta, tenta,
Isola – se.

Estou com medo de deixar...!
Faço de conta que sou cruel e má.
Só de birra, para irritar.
Flechinha, meu amigo, letrinha
Quem sou eu?
Me diga!

Malu Calado