Com a proximidade dessa data simbólica, ao invés de escrever sobre a mãe, dentro do meu foco psicanalítico, resolvi falar da importância da função materna.
Uma coisa é ser a mãe; outra, muito diferente, é desempenhar o papel de
mãe ou exercer a função materna, como se diz em psicanálise.
Conceitualmente, mãe é aquela que gera biologicamente um ser; já a
função materna é carregada por aquela pessoa que exerce o cuidado. Nem
sempre ambas coincidem na mesma pessoa.
Nos primeiros meses de
vida, o bebê se vê diante de sensações corporais e estímulos que ainda
não têm nenhum sentido para ele. Não consegue diferenciar o que é ele
próprio e o que são os objetos do mundo externo. Assim, em sua
percepção, é como se ele e a "mãe" fossem um só.
Dessa forma, se faz
necessário que alguém o ajude a perceber-se no tempo e no espaço,
reconhecendo-se no seu corpo e na realidade, até conseguir estabelecer
um relacionamento com o mundo externo.
O papel da pessoa que exerce
a função “mãe” é de compreensão e receptividade de forma a ajudá-lo a
ir dando sentido a esses sentimentos desconhecidos.
Assim, esse
vínculo "mãe-filho" é fundante. Os cuidados maternos, com a alimentação e
a higiene se destacam em importância na medida em que cada criança tem
um lugar específico, como um ser amado, desejado por essa "mãe".
Saber exercer a função "mãe", faz parte de um aprendizado onde
percebe-se como fazer para satisfazer essa criança; é a possibilidade de
reconhecê-la em suas particularidades.
A função materna é
desempenhada não apenas pela mulher que amamenta, mas pela pessoa que
olha nos olhos da criança, pela que ouve o que ela diz, pela que está
atenta aos seus sinais. Somente dessa forma, a criança percebe -se como
um ser único, e importante.
A “mãe suficientemente boa”, como dizia
Winnicott, é a pessoa que proporciona suporte entre o afeto e as
necessidades fisiológicas até os processos de separação, gerando
confiança na criança para suportar-se sozinha posteriormente.
As
“boas mães” são as pessoas que supostamente falham de forma a permitir
que o amadurecimento daquele sujeito possa ocorrer. É a falta dessa
"mãe" que, na medida certa, levará a criança a tolerar suas próprias
angústias e contar consigo nas demais fases da vida.
O lugar da
verdadeira maternidade é destinado àquelas pessoas que estão dispostas a
suportar a imperfeição, a não completude, pois como dizia, Freud,
educar é tarefa impossível. Os requisitos básicos para ocupá-lo, é estar
proposta a amar e cuidar, negar quando se fizer preciso, ter paciência,
tolerância e compaixão, teimosia na insistência de estabelecer
princípios, ser exemplo do que se prega e, acima de tudo,
gradativamente, saber liberar esse ser, com carinho e zelo, para o
mundo.
Lucia Gomes
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