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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Não há o que perdoar...



As lágrimas escorrem...
Mas não há o que perdoar
quando a palavra é sincera
quando a verdade é clara
O pedido de perdão
Por amor não correspondido
Não existe razão

A ternura foi percebida
A confiança cravada na letra
A franqueza cordial foi estabelecida
O pedido sem sentido...
Acalmem os corações
O perdão foi consentido 

Uma história foi contada
Na busca de um ombro amigo
Mas a conseqüência de vazar a dor
Pode ser a perda de um amor
Pelo choque do horror...
Acalmem os corações
O afeto há muito tempo
 Cravado no peito
Aceita a resolução

O tempo cura...
A mudança subjetiva há de vir
A posição de vítima
De escravizado, aprisionado
Cairá: PV
E nascerá um sujeito dono de si

Não há o que perdoar
A busca era a de poesia
da realidade, da amizade
através da escrita
Da inspiração...
Por alguma razão
O amor platônico
atormentou-se
E atarantado fez aparecer um beijo.

Não há o que perdoar
Acalmem os corações...
Ouvi dizer que o amor é perigoso
Não é...
É verdade que dói
Amizade que se constrói
Somos nós e a poesia.

Assim é a história de amor
Entre poetas...
Cambiar em versos
Inspiração, ternura
E verdade...
Não há o que perdoar
Eu te amo em prosa e verso!

Malu Calado

terça-feira, 24 de maio de 2011

Vivendo a sua própria vida


http://youtu.be/8iUgfX7SUN4
Fera Ferida (Roberto Carlos)


Cercada de livros, lembranças, arquivos
No quarto escuro
Em uma manhã de chuva
Café e banana
Fio de cabelo branco no teclado
E silêncio...
Quero vocabulário, falar de sentimentos
Amor, esperança, dor, alegria, solidão
A Dama dos Cravos,
A. J. Cronin para aliviar
A minha presença...
Meu peso...
Como pode alguém abandonar- se assim?
Talvez seja esse o meu gozo
A minha maneira de ser feliz
Estar só
Em um mundo violento
Onde “estupradores da poesia”
Não sentem dor nenhuma
Saem impunes
Os Dândis de Balzac
Em carros importados
Carregando suas Barbies...
Quanto rancor guardado!
Deixa a ferida de lado
Vai viver sua vida
Malu Calado!
Malu Calado





domingo, 22 de maio de 2011

A dor de existir. Para pensar...

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=9f5asvDFEyg#t=396s
(Via Teatro e Psicanálise)

"A depressão se encontra hoje em dia generalizada e quanto mais sobre ela se fala, se escreve e se pesquisa, tanto mais ela é encontrada nos mais insuspeitos ressentidos de nossa civilização. O significante é realmente criacionista: o significante DEPRESSÃO parece ter engendrado o batalhão de sujeitos que assim classificam seu estado d'alma quando se encontram tristes, desanimados, frustrados, enlutados, anoréxicos, apáticos, desiludidos, entediados, impotentes, angusiados, etc. Será que antes não o percebíamos? Onde se escondiam?(...)

Por um lado, parece haver uma generalização- Todos Deprimidos!- Uma vez que se encontra mais a doença.(...). Por outro lado, há um combate ferrenho à depressão por ela ir contra os ideais da produtividade e contra o imperativo da saúde e do bom humor que caracterizam a nossa sociedade utilitarista e consumista. ABAIXO OS DEPRIMIDOS! O resultado disto é o número crescente de pessoas que tomam antidepressivos e de médicos e paramédicos que os receitam, sustentados pelo discurso da ciência que divulga os resultados das pesquisas sobre os neuro- hormônios... A novos males novos remédios? Ou a novos remédios novos males?

(...)Vivemos hoje em uma espécie de evidência do consumo e da abundância, criada pela multiplicação de objetos, na qual os homens da opulência não se cercam mais de outros homens e sim de objetos (tvs, carros, computadores, fax, telefones). Suas relações sociais não estão centradas nos laços com outros homens, mas na recepção e manipulação de mensagens. Essa deterioração dos laços sociais e o empuxo ao prazer solitário fazendo a economia do desejo do Outro só estimulam a ilusão da completude não mais com um par mas com um parceiro conectável e desconectável ao alcance das mãos. O resultado não pode ser outro senão a decepção e a tristeza, o tédio, a nostalgia do Um em vão prometido...

A tristeza, sobre a qual nos fala o melancólico, é situada por Lacan como dor de existir; no âmbito da ética ela é considerada covardia moral(...)

A psicanálise oferece um tratamento pela via do desejo que possibilita o sujeito ir da dor de existir à alegria de viver. Mas para isso o sujeito precisa querer saber, tendo a coragem de se confrontar com a dor que morde a vida e sopra a ferida da existência, para poder fazer da falta que dói, a falta constitutiva do desejo(...)"(Quinet,1997,p. 10-11)

Eu faço análise há alguns anos e posso afirmar que não é fácil dar de cara com as minhas verdades. Essa covardia moral citada por Antonio Quinet, na apresentação do livro A Dor de Existir, pelo pouco que já li sobre psicanálise, parece que é a covardia do não falar em análise, viu gente? A melhora dessa dor de existir pode ser abrandada pela coragem de falar-se. A palavra é o que importa nesse tratamento lindo e cruel. Às vezes eu não quero ir para a análise porque dói. Machuca ver-se desnudar, sem poder agarrar em alguém para culpar.


Muitas vezes culpo o mundo, eu acho que estou completamente out desse mundo consumista, cheio de "assassinos da poesia", onde a regra é mundial e todos têm que ser iguais, onde a subjetividade se esvai... 


Mas ao mesmo tempo me pergunto: Porque estou fora? Porque eu não posso entrar no mundo, nova como a lua, e fazer algo diferente dos demais? Aí é que entra a psicanálise, com a sua crueldade sedutora, assim como Carmen de Prosper Mèrriméé (acho que é assim que escreve) e sussurra no meu ouvido: "Porque você tem medo de ser você!". E com ela eu sempre dou "mãos à palmatória", e respondo: "É, tenho medo, pânico, a melancolia se instala, fico paralisada."


Assim vou levando e penso: "Malu, você que adora falar mal desse processo de "mundialização" (li essa expressão em um livro muito legal, mas já é outro assunto) resolveu escrever um blog, caiu na rede da globalização bla, bla, bla." Nada disso, me rendi ao blog. Eu gosto de escrever, as pessoas lêm blogs, e eu sempre quis ser escritora, poeta, dividir idéias, e estava atormentando a minha amiga "verdinha" e o meu analista, enviando 40 mensagens por dia. Além disso,  se eu quero fazer alguma coisa diferente, se estou trancada dentro de casa, sozinha mesmo, sofrendo com a tal Síndrome do Pânico, vivenciando reações panicosas seguidas de reações de conversão! Porque não ESCREVER em um blog? 


Graças à lei da relatividade eu posso me posicionar como sujeito, mesmo tendo um blog! Eu posso vencer o pânico e a depressão escrevendo, trocando mensagens com pessoas inteligentes e estúpidas? Posso, mas não posso deixar de ir para a análise!

Malu Calado