Páginas

sábado, 4 de junho de 2011

Meu achado

Meu achado
Malu Calado
Escrevi essas palavras inspirada nas pessoas que me ajudam a "tentar criar uma ponte de confiança" para eu atravessar... Para "os meus achados", com todo o meu amor e admiração! Obrigada a cada um de vocês!
 
Ela alegra os meus dias
Ela é o pingo na rosa
Que cai em minha testa
Todas as manhãs
E eu tenho medo.

Ela sabe meus segredos
E mesmo assim
Ela gosta de mim
Isso me apavora
Estou acostumada ao sofrimento
E ela vem fazer revolução
Em meu coração!

Ela me lê
Ela sabe do que sou capaz
Descobre meu ser
E eu tenho medo.
Ela me faz querer saber
Me faz pensar em mim
E o prazer que sinto na dor
Ela quer me tirar!

Ela é doce, terna
Palavras de amor
Que não ouvi...
Eu demandei tanto, tanto
E o amor, em forma de gente
Meu achado aparece
E eu tenho medo!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Masoquista, eu?

Quando um sofrimento tatua o meu corpo a sua marca, em minha alma a dor, eu tenho três caminhos: tornar- me rancorosa, lamurienta ou sedutora. Eu sempre verbalizo que o sofrimento engrandece, transforma o caráter, bla, bla, bla... Tá, para alguns. Mas “euzinha aqui” está precisando mudar mesmo e deixar de ser hipócrita. Por quê? Porque eu adoro sofrer! Eu não entendia que essa coisa da sedução misturada com o sofrimento ia desembocar em MASOQUISMO! Gente, isso é a coisa mais feminina que existe! E eu somente não estou em alta porque não nasci na renascença, os tempos mudaram e eu não tenho nada de Barbie, ao contrário, eu sinto uma inveja extrema delas, me transformo, sou capaz de engordar só para ser chata e sofrer, invejar os corpos lindos das mulheres, sou capaz de ficar bem feia para nenhum homem me querer, e eu sofrer bastante com a rejeição. É, eu também fiquei embasbacada ...

O que acontecia é que eu passava muito tempo na rede do sofrimento, gozando incansavelmente da dor, hoje em dia passo menos tempo, mas continuo caindo na rede. A diferença é que AGORA EU SEI E ACEITO QUE SEI que sou masoquista. Mas essa não é a parte fácil, é a mais difícil. Como mudar isso? Vou ter que repetir recordar e elaborar? Poxa, só de pensar já fico cansada.


Eu tenho um discursinho que é a minha cara... “A luta pela vontade de viver...” Sei! Não, eu luto para saber, eu brigo comigo. Eu tenho que brigar comigo todos os dias, é claro que é uma luta ficar entre o progredir e o regredir, lá no limbo, paralisada, deprimida... É horrível!  Mas não estou tão certa se isso engrandece a minha alma, isso me cansa de mim. Eu não posso aqui desfazer totalmente da minha pessoa, pois eu cairia em minha própria rede. Eu receberia mensagens com fundo de piedade, e não é esse o meu intuito, pois a resposta de dó para o masoquista, somente empanturra o próprio masoquista de gozo... E eu estou tentando, escrevendo, pensar o masoquismo feminino que está entranhado em meu ser.


Isso é que acontece quando se faz análise... Quanto mais eu mexo na minha ferida mais dou de cara com o assombro que eu sou. Eu confesso que durante toda a minha vida eu sofri, e sofri muito! Continuo sofrendo, pois ao invés de me empanzinar com antidepressivos escolhi o caminho da psicanálise para aliviar a dor... Ledo engano! Que inveja da ignorância eu tenho agora! Bem, mas a proposta da psicanálise não é a cura total, a chegada triunfal, eu acho que é a busca da nossa verdade para que nós possamos saber nos virar com o nosso próprio ser.


Hoje eu acordei alegre. A alegria e a paz sempre foram estranhas de sentir, e quando eu sentia felicidade e prazer a culpa vinha me derrubar. Ainda acontece, mas vamos lá... Mas por quê? Porque o sofrimento sempre foi o normal em minha vida, me é próprio, é do meu ser, eu sofro desde pequenininha. E como o sofrimento é confortável, porque estou acostumada a ele, quando vem a alegria o meu inconsciente me joga na rede, eu meto os pés pelas mãos, e lá estou eu novamente, no limbo, deprimida, paralisada. Tenho que aprender a viver!


Sabe o que faço? Escrevo, corro para a análise e mantenho à vista o livro “Peixe Dourado” de J.M.G. Le Clézio para lembrar- me que eu devo enfrentar a vida e caminhar, mesmo com as dificuldades. Nesse livro tem um provérbio da civilização antiga mexicana que diz assim: “Oh peixe, peixinho dourado, cuide bem de si! Porque são tantas as armadilhas para você neste mundo!” Pois é, agora meu desafio é, além de entrar no mundo, e me curar do medo, saber manejar esse masoquismo!


A psicanalista Mery Pomerancblum Wolff, em seu artigo (2007): Masoquismo feminino, narcisismo e sua relação com os vínculos precoces considera, que o masoquismo feminino seria um aspecto estruturante no psiquismo das mulheres. Este se constitui a partir do estabelecimento do vínculo com a mãe em conexão com a estruturação do narcisismo, da dependência e com os sentimentos de desamparo que podem surgir nesta estruturação.
No Vocabulário da Psicanálise de Laplanche e Pontalis (2001, p.275) está escrito o pensamento de Freud sobre o masoquismo primário: (...) Freud entende o masoquismo como um estado em que a pulsão de morte é ainda dirigida para o próprio sujeito, mas ligada pela libido e unida a ela. Este masoquismo chama-se “primário” porque não sucede a um tempo em que a agressividade estaria voltada para um objeto exterior, e também porque se opõe a um masoquismo secundário, que se define como um retorno ao sadismo sobre a própria pessoa e se acrescenta ao masoquismo primário (...).

E para piorar o meu sentimento de culpa por ser masoquista, e gozar do sofrimento, por mais que isso seja inconsciente, na p. 274 do tal Vocabulário,  em negrito tem escrito bem assim: Freud entende a noção de masoquismo para além da perversão descrita pelos sexólogos, por um lado reconhecendo elementos dela em numerosos comportamentos sexuais, e rudimentares na sexualidade infantil, e por outro lado descrevendo formas que dela deriva, particularmente o “masoquismo moral”, no qual o sujeito, em razão de um sentimento de culpa inconsciente, procura a posição de vítima sem que um prazer sexual esteja diretamente implicado no fato.

Essa coisa de "posição de vítima" é de matar o sujeito de raiva, ô verdade macabra... Eu quero culpar a minha mãe! A culpa sempre é da mãe! E agora? Eu sentia desamparo... culpa da mãe. Eu me sentia rejeitada... culpa da mãe. Eu me sentia um lixo... culpa da mãe. A caneca caiu... culpa da mãe. E agora? Vou culpar quem pelo meu masoquismo? A mãe, claro! Eu achava que ela não me amava o suficiente, que só amava meu irmãozinho... Gente, mas eu estou na idade da loba, não cabe mais culpar a mamãe.


Psicanálise... Porque fui me meter nessa coisa? O pior é que estou saindo da rede e mordendo a isca do anzol da psicanálise maldita!

Outra coisa que preciso escrever. Eu não escolhi a psicanálise, somente para tratar da minha neurose que me paralisa, deprime, e “lasca com a minha cabeça”, para ser feliz, não! Eu escolhi esse tratamento sem saber, sabendo, que eu estava entrando na maior fria! Eu escolhi o mais difícil, o caminho mais doloroso para ter paz, para não temer quem eu sou, para aprender a viver. Mas como uma boa masoquista, como a psicanálise f... a minha cabeça, eu acabo gozando no sofrimento de fazer análise, em busca de um alívio, que eu sei, virá!

Malu Calado