Páginas

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Alguns apontamentos sobre a "Função Materna"




Com a proximidade dessa data simbólica, ao invés de escrever sobre a mãe, dentro do meu foco psicanalítico, resolvi falar da importância da função materna.
Uma coisa é ser a mãe; outra, muito diferente, é desempenhar o papel de mãe ou exercer a função materna, como se diz em psicanálise. Conceitualmente, mãe é aquela que gera biologicamente um ser; já a função materna é carregada por aquela pessoa que exerce o cuidado. Nem sempre ambas coincidem na mesma pessoa.
Nos primeiros meses de vida, o bebê se vê diante de sensações corporais e estímulos que ainda não têm nenhum sentido para ele. Não consegue diferenciar o que é ele próprio e o que são os objetos do mundo externo. Assim, em sua percepção, é como se ele e a "mãe" fossem um só.
Dessa forma, se faz necessário que alguém o ajude a perceber-se no tempo e no espaço, reconhecendo-se no seu corpo e na realidade, até conseguir estabelecer um relacionamento com o mundo externo.
O papel da pessoa que exerce a função “mãe” é de compreensão e receptividade de forma a ajudá-lo a ir dando sentido a esses sentimentos desconhecidos.
Assim, esse vínculo "mãe-filho" é fundante. Os cuidados maternos, com a alimentação e a higiene se destacam em importância na medida em que cada criança tem um lugar específico, como um ser amado, desejado por essa "mãe".
Saber exercer a função "mãe", faz parte de um aprendizado onde percebe-se como fazer para satisfazer essa criança; é a possibilidade de reconhecê-la em suas particularidades.
A função materna é desempenhada não apenas pela mulher que amamenta, mas pela pessoa que olha nos olhos da criança, pela que ouve o que ela diz, pela que está atenta aos seus sinais. Somente dessa forma, a criança percebe -se como um ser único, e importante.
A “mãe suficientemente boa”, como dizia Winnicott, é a pessoa que proporciona suporte entre o afeto e as necessidades fisiológicas até os processos de separação, gerando confiança na criança para suportar-se sozinha posteriormente.
As “boas mães” são as pessoas que supostamente falham de forma a permitir que o amadurecimento daquele sujeito possa ocorrer. É a falta dessa "mãe" que, na medida certa, levará a criança a tolerar suas próprias angústias e contar consigo nas demais fases da vida.
O lugar da verdadeira maternidade é destinado àquelas pessoas que estão dispostas a suportar a imperfeição, a não completude, pois como dizia, Freud, educar é tarefa impossível. Os requisitos básicos para ocupá-lo, é estar proposta a amar e cuidar, negar quando se fizer preciso, ter paciência, tolerância e compaixão, teimosia na insistência de estabelecer princípios, ser exemplo do que se prega e, acima de tudo, gradativamente, saber liberar esse ser, com carinho e zelo, para o mundo.
Lucia Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário