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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Amante de Marguerite Duras na edição Portátil 4 da Cosacnaify



Leyla Perrone- Moisés escreveu o pósfácio do livro O Amante de Marguerite Duras na edição Portátil 4 da Cosacnaify, e alguns trechos me impressionaram.

Marguerite Duras, em en
trevistas, afirmou que sua escrita é autobiográfica em O Amante, fazendo menção à sua infância, a relação com a mãe, os irmãos e com os seus próprios pensamentos em uma época em que a mulher não tinha tanta voz. A autora defende a escrita como ato que pode salvar mentes traumatizadas, o silêncio sombrio do inconsciente no papel é apaziguador, a dor. “É certamente o medo da infância que conto em O Amante, aquele medo do meu irmão mais velho e a loucura da minha mãe que me fizeram escrever. A petrificação dos sentimentos diante da força do outro... “o rosto da mãe um vulcão, uma torrente, ausência, e ela sentia medo.


• ”A escrita foi a única coisa à altura da catástrofe infantil”
• “A escrita não é uma maneira de conseguir viver, é simplesmente uma maneira de viver”... Mais do que uma maneira de viver, a literatura é uma maneira de morrer, de morrer para si mesmo... essa mostre “de si mesmo” é o oposto... é a possibilidade de todas as infidelidades ao factual em proveito de uma verdade maior, afetiva e poética.
• “O recalcado encontrou uma forma, uma sublimação”. Isso só se consegue por um trabalho, aqui o trabalho da escrita.

Duras afirmou em entrevista que foi mais fácil escrever O Amante após a morte da mãe e dos irmãos. E Leyla Perrone- Moisés completa: A vida da família é uma história de amor e ódio, de miséria material e riqueza afetiva. Os encontros amorosos são intensamente prazerosos e infinitamente tristes.

Em se tratando do amante, Duras não o separa da mãe, e é aí que me confundo, eu, uma ignorante em análise há sete anos. Mas foi nesse ponto que empaquei e continuo até hoje:
“O gozo sexual com o amante é comparado ao mar. Em francês, a associação de La Mer (o mar) e La Mère (a mãe) é um trocadilho fácil, mas inevitável... O mar, origem da vida, poder de destruição.”... “em minha infância, a infelicidade de minha mãe ocupou o lugar do sonho.”
No pósfacio li essa frase “Não me importa a mortalidade ou a imortalidade...” para mim é a busca do vento que importa. E quando Duras fala do Amante Chinês, do seu medo, me vejo ali, presa e amarrada nele, no medo:

“Ele chora muito, pois não encontra forças para amar além do medo. Seu heroísmo sou eu, sua servidão é o dinheiro do pai”. E é aí que me calo, que chorei muito e quis todo o silêncio... Eu descobri Duras e sentimentos iguais... Meus segredos na literatura, e eu dormi após o choro, só querendo o vento e o mar. Mas minha filha não me deixa ir.
Malu Calado

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